História do Jazz

... "Joe Oliver ensinou-me mais do que qualquer outra pessoa - dava-se ao trabalho de perder o seu precioso tempo comigo. Se há alguém a quem eu deva agradecimentos - isto é, se há razão para lhe agradecer - este é o grande mestre Joseph King Oliver... É a ele que devo tudo que fiz no mundo do Swing - Jazz - Hot - Ragtime, ou como queiram chamar a esta música. Joe costumava dizer que era o meu padrasto, porque eu era como um filho para ele, dizia. E o certo é que ele foi um verdadeiro pai para mim"...

                                                           Louis Armstrong

 

Começa a História do Jazz, ligada à perversidade do comércio de escravos

    O espírito humano é capaz de coisas grandiosas, de feitos abnegados, de atos carregados de solidariedade e de amor ao próximo. Mas, também, extrapola ao outro extremo, praticando ações odiosas, hediondas e repugnantes. São os extermínios étnicos, os holocaustos, as guerras, as agressões terroristas, o comércio nefando de escravos. É inexplicável !
    Os escravos seqüestrados ao continente africano, com destino ao Novo Mundo, somaram aproximadamente doze milhões de vidas, das quais um milhão e meio morreram durante as viagens!
    O Brasil absorveu cerca de quatro milhões de indivíduos, para abastecer os trabalhos da lavoura e da mineração. Interessante e polêmica foi a posição da Igreja Católica do Brasil que, na época, era contrária à escravidão dos índios, mas complacente com relação à escravatura dos negros! O restante dos escravos sobreviventes, seis milhões e meio de pessoas, foi dividido entre os outros países das Américas.
    As humilhantes condições de vida a que foram submetidos os  escravos, nós já as conhecemos, através de nossas antigas aulas de História. Nos Estados Unidos, assim como em outros lugares, os escravos não tiveram melhor sorte.
    O negro africano trouxe consigo, além da dor e da tristeza do desterro, seus pertences pessoais, suas plantas medicinais, instrumentos musicais e uma milenar e intuitiva cultura. Seus amos, os colonos americanos, proibiam-nos de usar os seus tambores e outros instrumentos musicais, temerosos de que os mesmos poderiam servir de estímulo a revoltas e eventuais sublevações. Proibiam-nos até de usar suas línguas e dialetos nativos, objetivando  com estas repressões quebrar a unidade de corporação do grupo.
    O caráter da entrada do negro na nação americana configurou-se como uma imigração, onde o elemento imigrado é obrigado a aceitar os costumes do país que o recebe. Porém, antagonicamente, com relação à cultura musical por parte dos negros, houve uma verdadeira migração, movimento em que os migrantes impõem e  transformam os parâmetros da cultura existente no país.
    E, desta maneira, os escravos trabalhando nas plantações americanas ou nas construções das estradas de ferro, criavam suas canções e, mesmo sem os seus instrumentos musicais, liberavam os seus sentimentos em ritmadas melodias cantadas. E, assim faziam. Ora, um deles puxava um canto, à guisa de mote, ora os demais respondiam, repetiam, improvisavam.
Esta prática evoluiu e difundiu-se, passando a fazer parte nos folguedos de lazer, junto às sedes das fazendas, até recebendo a  assistência dos patrões. Neste cantos, calcados em tradições de raízes africanas, os escravos manifestavam os seus lamentos, suas saudades, seus acontecimentos do dia-a-dia e, por certo, relacionava-se com a forma que posteriormente conheceu-se por Blues. E estas manifestações musicais, ainda que rudimentares e provenientes das regiões sulistas da nação americana, projetaram uma importância basilar na formação ulterior do Jazz.
    Uma das formas musicais, que também demanda destes tempos, é a música Gospel (Gospel Music). Pastores evangélicos, aproveitaram o novo e populoso rebanho pagão de escravos, nas lavouras de algodão, para trabalhar na cristianização deste povo. E este trabalho religioso foi realmente um sucesso! Na aceitação da doutrina Cristã, pelos escravos, estes inovaram, e acrescentaram às melodias religiosas existentes características harmônicas e rítmicas com tempero e sabor da música negra. Este novo modo de tributo ao Senhor logo foi aceito por todos, sendo adotado pelos mais variados segmentos sociais daquela atualidade. Esta parcela de aculturação dos escravos, orientada à sua formação religiosa, forneceu também importantes elementos recebidos pelo Jazz, no processo de caldeamento de sua formação.
    Duas outras formas de música negra contribuíram também na formação do vindouro Jazz: foram o Ragtime e o Spiritual.
    O Ragtime teve origem derivado de uma dança conhecida como Cake-Walk ou Regging, a qual era acompanhada pelo Banjo, tentando imitar danças de origem européia. Esta modalidade musical formou-se originalmente no meio-oeste norte-americano e assemelhava-se, mais precisamente, a uma marcha sincopada, mantendo os dezesseis compassos tradicionais da marcha. Evoluiu, posteriormente, com a adição do piano, resultando em uma música muito agradável, de excelente estrutura e muito bem aceita. O Piano, praticamente, transcrevia para o teclado o dedilhado do Banjo, incorporando à mão esquerda, com exatidão, a marcação grave da Tuba, tornando, assim, o Ragtime uma música com características pianísticas, porém sem concessão à improvisação instrumental.
    Foi o pianista Scott Joplin quem somou ao Ragtime novas características, consolidando-o através de inúmeras e bem elaboradas composições.
    Já o Spiritual, surgia no século XIX , também com as características de música negra , destinada exaltar motivações religiosas ou folclóricas, seguindo um caráter vocal. As suas melodias eram passadas de indivíduo a indivíduo, sem qualquer registro gráfico, por intermédio do canto e da memória musical.
    Temos, então, vários vetores dirigidos ao que no futuro viria a constituir-se o Jazz, dando-lhe substância musical. O Blues, o Ragtime, a música Gospel e o Spiritual orientaram-se nesta direção, criando uma estrutura musical definida e com sólida conformação artística e popular, tornando-a plenamente viável. O Jazz . Mas, vamos voltar ao nosso assunto principal.
    O tratamento que se dispensava aos escravos, ou melhor dizendo, os maus tratos, variavam conforme a localidade. Mas, na cidade de Nova Orleans, no Estado de Louisiana, em cuja colonização predominaram franceses e espanhóis, os escravos eram tratados com um pouco mais de brandura, ou com menos rigor. Não houve o confisco absurdo de seus instrumentos musicais e os escravos podiam exercitar mais livremente as suas práticas artísticas. Naquele tempo, surgiam gloriosas formações musicais de bandas e, Nova Orleans orgulhava-se de possuir excelentes conjuntos nesta modalidade. Brilhavam em desfiles e solenidades bandas formadas por elementos de raça branca (genuínos europeus ou creoles), de negros e até bandas mistas.
    Aconteceu, então, além da emulação natural entre os participantes, uma integração musical que, positivamente, desencadeou em um aperfeiçoamento artesanal em suas execuções.Todas as bandas - brancas, negras, mestiças - tocavam, praticamente, o mesmo tipo de música em moda na época, constituída por marchas e cantigas locais, porém cada uma incorporava a sua bossa própria e característica. Com o passar dos tempos, as bandas evoluíram tecnicamente, acrescentando novos instrumentos musicais, como a Clarineta por exemplo, que se encarregava de executar a pontuação melódica da melodia.
    Também aconteceu um avanço muito importante e significativo, quando se experimentou a alteração do compasso das marchas e Rags, de 2/4 para 4/4. Esta feliz modificação, quebrou a rígida estrutura militar do ritmo até então empregado, oferecendo maior flexibilidade e balanço às melodias executadas. A sutil alteração abriu e liberou o andamento musical das peças que as bandas tocavam, ampliando também o seus espaços de apresentações. Antes, configuradas apenas para desfiles e exibições móveis, as bandas passaram a oferecer apresentações em salões e outros ambientes fechados.
    Desta época em diante, definiram-se naturalmente alguns parâmetros, que determinaram a conjuntura destes agrupamentos. O Trompete assumiu o papel de liderar o tom da banda, seguido da Clarineta efetuando ornamentos de contraponto, enquanto o Trombone assumia a missão de intermediar o baixo. Todos acompanhando a seção rítmica, composta pela Tuba, indicando o tom e marcando o ritmo com toques firmes e fixos, o Bombo, Caixas e Pratos ( posteriormente substituídos pela Bateria), desenvolvendo o desenho rítmico da música e o Banjo, acompanhando o ritmo da Tuba em um registro mais alto. O Piano acrescentado, foi muito bem-vindo, atuando na marcação rítmica e fazendo insinuações melódicas. Estava definido um padrão que viria a ser vitorioso !

1900

    Isto acontecia no final do século XIX e, muito próximo a 1900 , já despontava o nome de Buddy Bolden, líder trompetista, na quente e musical Nova Orleans, que teve como sucessores os comentados Manoel Perez e Freddie Keppard. Nesta época, iniciava o seu reinado o cornetista Joe "King"   Oliver, com o seu sopro potente e afinadíssimo, além de um novo estilo de tocar. Havia entre eles, Bolden, Perez, Keppard e Oliver, uma grande e feroz rivalidade, o que, de uma certa maneira, resultou benéfica no aprimoramento de seus trabalhos.

1910

Em meados da década dos anos 10, surgia no cenário musical a legendária figura de Jelly Roll Morton, pianista, compositor e líder de conjuntos, que praticava o seu Jazz em clubes e cabarés famosos da época. Outras novas personalidades musicais afloravam e uma delas, o grande trombonista Kid Ory iniciava a sua longa carreira de sucesso, com destino a mais de meio século de Jazz.
    Em 1916, atuava com acentuado sucesso a Original Dixieland Jass Band (ODJB), excursionando e até gravando o seu primeiro disco. Seus admiradores, que antes a reconheciam pelo apelido de Dixieland, por praticidade passaram a chamá-la de Jazz, uma alteração mais enfática de seu nome Jass. Segundo alguns estudiosos, vem daí a denominação desta nova música.
    Nesta década, apontava o nome de Johnny Dodds, grande clarinetista do início do Jazz.
Em 1919, já era notícia o grande saxofonista soprano Sidney Bechet, que despontava como um dos maiores intérprete deste instrumento, além da Clarineta.
   

1920

    A década dos anos 20 iniciava com o sucesso da Creole Jazz Band, de Kid Ory, agora um nome já consolidado na empolgante música de Jazz. E, embora iniciando o seu trabalho na década anterior, surgia um modesto rapaz, tocando a sua Corneta, que viria a tornar-se um dos maiores vultos do Jazz: Louis Armstrong, o Embaixador do Jazz, como cognominou-se anos mais tarde. Armstrong fora aluno de Joe "King" Oliver em sua cidade natal, Nova Orleans e, neste ano de 1920, ingressava na banda de Fat Marable, que atuava em um navio fluvial de nome Capitol, subindo e descendo o rio Mississipi e tocando um Jazz da melhor qualidade.
    Mas, já em 1922, deixava de navegar e ingressava na banda de Joe "King" Oliver, seu ex-professor, na cidade de Chicago. As coisas sucediam-se rapidamente. Em 1924, passava para a banda de Fletcher "Smack" Henderson em Nova Iorque, substituindo a Corneta pelo Trompete. Outras bandas se sucederam na vida de Louis Armstrong, sempre tocando, gravando, galgando e atravessando com êxito artístico várias décadas seguintes.
    Em meados da década de 20, o já referido Jelly Roll Morton fazia sucesso à frente de seu explosivo grupo Red Hot Peppers, atuando decisivamente em gravações e em transmissões via rádio. Por esses tempos, as gravações de discos iniciavam uma nova modalidade de divulgação artística e auspiciosa fonte de rendimentos, ao mesmo tempo que resultaria em importante registro histórico musical de então. O testemunho discográfico destas épocas referenda dados importantes e valiosos, na análise de tendências e desenvolvimento do Jazz.
    Esta década foi pródiga no surgimento de grandes artistas jazzísticos. Bessie Smith, por exemplo, apresentava-se nestes anos em grande atividade. A Imperatriz do Blues, como era chamada, apresentava a sua especial voz em audições de clubes noturnos e em gravações de discos que, ainda que incipientes,traziam-lhe muito sucesso.
    Chicago, nesta década dos anos 20, surgia como um importante centro jazzístico, cotizando com Nova Iorque, que era, indiscutivelmente a Meca do Jazz. Em atividade, nestes tempos, podia-se distinguir os nomes de Bix Beiderbeck, cornetista e trompetista, dos clarinetistas Benny Goodman e Pee-Wee Russell e da famosa orquestra de Paul Whiteman. Especial menção, devemos fazer aos trabalhos pianísticos de Willie "The Lion" Smith, Eubie Blake e James P. Johnson, antológicos músicos que serviram de modelo a outros grandes e famosos pianistas futuros.
    Mas, para a glória da década dos anos 20, dois importantes nomes assinaram neste pedaço de tempo e, cada um à sua maneira, deixaram as suas marcas indeléveis na história do Jazz. Foram Fats Waller e Duke Ellington !
    No final da década de 20, o Jazz já exibia a sua identidade própria, consolidando a sua força musical e a sua beleza artística. Nova Iorque tornava-se o grande centro cultural, artístico e comercial da Música e os investimentos financeiros, neste setor, cresciam, assegurados pela certeza de retornos monetários certos e seguros. Os grupos musicais cresciam, grandes e numerosas bandas formavam-se e inúmeros talentos revelavam-se. A Tuba tinha sido, gradativamente, substituída pelo Contrabaixo, o Banjo pela Guitarra e assim corria celeremente o bom tempo, com grandes novidades acontecendo.

1930

E amanhecia a década dos anos 30.
    Os nossos já conhecidos Benny Goodman, Louis Armstrong, Duke Ellington, assim como outros, consagravam-se e continuavam aprimorando os seus estilos, alcançando sempre sucesso crescente.
    As grandes bandas surgiam, como um paradigma desta década. Louis Armstrong possuía uma boa orquestra, Don Redman e Cab Calloway iniciavam as suas trajetórias musicais e a orquestra Casa Loma, liderada por Glenn Gray, apresentava-se com inusitado sucesso, face aos seus excepcionais desempenhos.
   Outras orquestras também brilhavam, cotizando-se na aceitação pública, como as de Walter Page, Troy Floyd, Don Albert, Alphonso Trent (que tocava Acordeão, instrumento musical um tanto insólito no Jazz...), Jesse Stone, Nat Towells, Benny Moten, Andy Kirk e outras. E, algumas cercada de extraordinária fama, como as orquestras de Chick Webb, Artie Shaw, Benny Goodman, Tommy Dorsey, Jimmie Lunceford, Woody Herman, Duke Ellington e Count Basie.
    A orquestra de Count Basie, de certo modo remanescente da orquestra de Benny Moten, conseguiu alcançar uma notoriedade verdadeiramente sensacional. Basie, descobriu a fórmula mágica de cair no agrado geral. Formulou, para a sua orquestra, uma batida indolente, cheia de malícias em seus arranjos. Estes, eram escritos com simplicidade, sem no entanto tornarem-se inexpressivos ou quadrados. E, para completar, formou uma banda com músicos talentosos, da mais fina estirpe jazzística, como poucas outras orquestras tiveram o privilégio de possuir. E esta fórmula deu certo !
    Ao finalizar a década dos anos 30, já se possuía um apreciável acervo discográfico, mercê das melhorias tecnológicas das gravações. Observava-se, nestes tempos, alguns grupos racialmente mistos, atuando musicalmente ao vivo ou em gravações, o que em décadas anteriores era inconcebível. O Jazz, ao finalizar esta década apresentava-se com um padrão bem mais elaborado, com excelentes arranjos produzidos, músicos em níveis ascendentes e formações orquestrais impecáveis.

1940

    Em plena Segunda Guerra, iniciava-se a década dos anos 40.
Mesmo com as dificuldades advindas do conflito, o Jazz continuava a sua trajetória. Aconteceu até o grande interesse dos europeus por esta empolgante música, ocasionando excursões de vários artistas jazzísticos ao exterior, efetuando apresentações e gravações, isto antes que as escaramuças recrudescessem. Neste particular, trabalharam com sucesso o saxofonista Coleman Hawkins e o saxofonista / trompetista Benny Carter.
    Um acontecimento, nesta década marcou-a decisivamente, a criação do Bebop. Bebop, para muitos, Rebop, para outros ou, mais simplificadamente para alguns, Bop. Este novo estilo de tocar o Jazz desabrochou criativamente, em síntese, por dois grandes músicos da época: o saxofonista Charlie Parker e o Trompetista Dizzy Gillespie. Outros, colaboraram.
    O Bebop resultou da subdivisão do compasso 4/4 em oito batidas equilibradas, dentro do compasso. Com isto a música ganhou em agilidade e ainda, propiciou aos fraseados instrumentais maior poder improvisativo. De fato, o músico podia inventar pausas, atravessar os recomeços desencontrando-os das batidas, dando um balanço mais acentuado e embelezando o ritmo da melodia.
    Os bateristas assimilaram este avanço artesanal do Jazz e tiraram dele uma nova maneira de tocar, preenchendo a maior subdivisão de batidas com rufos e novos desenhos percussivos. É o caso de Max Roach, que aderiu a Charlie Parker e a Dizzy Gillespie, produzindo grandes atuações neste novo estilo jazzístico.
    O Bebop estendeu-se a outros grandes talentos do Jazz, como o trompetista Fats Navarro, o trombonista Jay Jay Johnson, o saxofonista Sonny Stitt, os pianistas Bud Powell e Thelonious Monk, enfim, a inúmeros outros grandes e importantes músicos jazzísticos. Terminada a Segunda Guerra, aconteceu um refluxo monetário nos vários setores da nação norte-americana. Milhares de soldados retornavam à pátria, demandando novos postos de trabalho e o país partia para uma acomodação geral. Por razões econômicas, as Rádios optavam por apresentações musicais através de discos, postergando apresentações artísticas ao vivo. Muitas orquestras desfizeram-se, tendo muitos de seus músicos partindo para outras formações menores, carreiras solos ou, o que foi mais lamentável, abandonando a carreira musical.
    Algumas orquestras enfrentaram esta convulsão, adaptaram-se e venceram, como foi o caso da banda de Dizzy Gillespie. Outras, não tiveram esta capacidade de reorganização. No final da década dos anos 40, o Jazz apresentava-se abalado, retalhado, ferido. Urgia uma reformulação para a continuidade de sua marcha constante. E esta adaptação à atual conjuntura aconteceu.

1950

    A década dos anos 50, que ora se iniciava, prenunciava uma retomada estratégica, com pleno sucesso para o Jazz.
    As orquestras, antes populosas e que existiam quase que exclusivamente para o abrilhantamento de salões de danças, reduziram drasticamente de tamanho, passando agora a realçar os talentos solistas de seus músicos. Com o advento comercial da Televisão, aconteceu a abertura de oportunidades para inúmeros músicos, apresentando-se em diversos programas da época. Claro que os sindicatos influíam, filtrando para a Televisão e Cinema apenas o padrão de artista que lhes convinham ...
    Consolidou-se, então, uma tendência de Jazz chamada de Cool, que aderia a uma produção de sonoridade mais suave e íntima. Nesta nova onda, o saxofonista Lester Young evidenciava-se como um fiel intérprete desta nova filosofia jazzística, tendo servido de paradigma para muitos outros músicos.
    E, em matéria de inovações, esta década não ficou só nisso. Aconteceu o surgimento da Escola Costa Oeste (West Coast), que foi um movimento de músicos de Jazz, de maioria branca, com alto nível técnico e de esmerada formação musical, cujo objetivo foi o de criar um Jazz mais rebuscado e altamente melódico. Aproveitaram, em síntese, todas as formas pelas quais o Jazz já navegara até aquele momento, dando-lhe em tratamento altamente técnico.
    Todos estes movimentos trouxeram, para a década de 50 e para as décadas seguintes, uma forma mais consciente e consistente de tocar o Jazz, de transcender melhor a beleza harmônica de suas melodias e de oferecer opções diferenciadas na maneira de executá-lo.
    Esta década trouxe em seu bojo o despontar de notáveis músicos de Jazz e o mundo ficou conhecendo grandes talentos como os saxofonistas Gerry Mulligan, Sonny Rollins, Benny Golson, Jackie McLean; os trompetistas Clifford Brown, Art Farmer, Chet Baker, Freddie Hubbard, Miles Davis ( que surgiu na década anterior, porém firmou-se nesta); os pianistas Bill Evans, Dave Brubeck (em cujo quarteto militava o excepcional saxofonista Paul Desmond); o contrabaixista Charles Mingus; a vocalista Carmen McRae e muitos outros.         Registra também esta década o aparecimento do conjunto The Modern Jazz Quartet, inaugurando um novo som dentro do Jazz.
    Em meados da década de 50 foi inventado, se assim se pode dizer, um novo estilo de Jazz, aplicável a pequenos conjuntos, chamado de Hard Bop. Intimamente ligado ao carismático baterista Art Blakey, fundador do famoso conjunto The Jazz Messengers, este movimento apareceu para limar as asperezas angulares do Bebop e tornar mais franca a sua linguagem.     Embarcaram neste estilo o fenomenal trompetista Miles Davis, o saxofonista inovador John Coltrane e outros.
    O Jazz da década dos anos 50 ia de vento em popa. O ressurgimento do pianista de harmonias incríveis Thelonious Monk, o surpreendente saxofonista Sonny Rollins e ainda, a eclosão de vários festivais de Jazz, onde artistas dos mais diversos estilos, escolas, idades, raças e cores tocavam juntos e relacionavam-se, mostrava um sinal eloqüente de recuperação e de boa saúde do Jazz, readquirindo o seu alto posicionamento. Somava-se a isto tudo a reaparição das famosas bandas de Count Basie e Wood Herman, um forte e indiscutível sinal de uma prática musical com muita técnica, arte e qualidade. E sucesso.

1960

    O mundo do Jazz recebia a década dos anos 60 iniciando,  praticamente, com a controvertida música de Ornette Colleman, rejeitada por alguns mas, posteriormente, sendo aceita como uma nova e moderna voz do Jazz. É quando o novo arrepia ! Mas, este novo estilo, moderno e livre, excitava a sensibilidade e a criatividade de outros músicos coevos, alguns até do continente europeu, que formaram suas próprias escolas, baseadas na livre improvisação. Neste contexto, corroboraram com os seus estilos afins, os artistas Cecil Taylor (Piano), Archie Shepp, Albert Ayler, Eric Dolphy (saxofones), além de outros.
    Enquanto isso acontecia, Charles Mingus, Miles Davis, John Coltrane, Wayne Shorter, Lee Morgan, Freddie Hubbard e Art Blakey continuavam com pleno êxito as suas carreiras artísticas, produzindo trabalhos fonográficos da melhor qualidade.
    Na década de 60, aconteceu o surgimento de um movimento musical, vindo do Brasil e denominado Bossa Nova, ou segundo querem alguns Samba-Jazz, para o qual pedimos licença para abrirmos um vasto parêntesis, nesta História do Jazz. A Bossa-Nova, de alguma maneira ligada ao Jazz, foi realmente um movimento renovador na música urbana do Brasil, com notável influência jazzística em suas estruturas. Surgindo na década de 50, ela realmente veio a ser conhecida do público norte-americano na década de 60, quando aconteceram diversas apresentações de músicos brasileiros nos Estados Unidos.
    A verdade é que, através de sua beleza melódica, seu caráter intimista e seu desenho rítmico acessível ao músico de Jazz, com o tempo ganhou a simpatia destes, sendo assimilada por inúmeros e importantes artistas. Constatou-se, então, um retorno ou um resgate. A Bossa-Nova, de influenciada que foi, em sua criação, pelo Jazz, passou a ser influenciadora no trabalho de renomados músicos jazzísticos. A aceitação da Bossa-Nova por grandes nomes, como os de Stan Getz, Charlie Byrd, Herbie Mann, Dizzy Gillespie, Lalo Schifrin, Ella Fitzgerald, Sarah Vaughan, Frank Sinatra, Barney Kessel, Oscar Peterson, Johnny Griffin, Cannonball Adderley, Paul Horn, Chet Baker, Carmen McRae, Kai Winding, Toots Thielemans, Earl "Fatha" Hines, Erroll Garner, Ahmad Jamal, Bobby Hackett, Vic Dickenson, Jimmy Smith, Urbie Green, Joe Pass, Laurindo de Almeida, Gary Burton, Nat Adderley, Milt Jackson, Clark Terry, Ronnie Scott, Niels Henning Orsted Pedersen, Bobby Durham, Lee Konitz, Jimmie Rowles, Bill Evans e outros, atestava a sua qualidade e a viabilidade artística e comercial da sua implantação.
    Inexplicavelmente, e infelizmente, alguns anos depois, o movimento esvaziou-se no Brasil, não mais alimentando a demanda nacional e internacional. Erro de estratégia, o recalcitrante falso nacionalismo, a obstinada e sistemática oposição às novas culturas, não sabemos, truncaram a oportunidade da Bossa-Nova de participar como uma das músicas brasileiras. Não foi sabido aproveitar a excelsa oportunidade que teve para firmar-se, definitivamente, como música de alto padrão artístico. Morreu, sendo substituída por outras "bossas", inferiores e efêmeras. Salvo algumas exceções, perdeu-se tempo e divisas.
   "Chega de Saudade" e vamos rapidamente fechar parêntesis.
    Nesta década dos anos 60 sucedeu, verdadeiramente, uma grande novidade, ou seja, a inovação dos instrumentos musicais eletrônicos. Avanços tecnológicos da época, foram aplicados à Música, resultando em interessantes equipamentos instrumentais, com grande aceitação. Teclados, Sintetizadores, Pianos Elétricos, Guitarras e Baixos de segunda geração, etc., surgiam e multiplicavam-se.
    Miles Davis, dedicou-se a eles, assim como outros músicos, dominando esta nova forma de instrumentação musical. Assim, vamos assistir, no final da década de 60, em uma nova linha de atuações os músicos Herbie Hancock, Tony Williams, Wayne Shorter, Chick Corea e mais alguns, com excelentes performances. Assim terminava a década dos anos 60, com o esfriamento daquele movimento livre, com a novidade de seu modernismo perdendo um pouco o entusiasmo inicial. Mas, no balanço geral, a década dos anos 60 foi muito frutífera para o Jazz.

1970

    Nos primeiros anos da década de 70, as coisas voltaram às suas normalidades, com as experiências das incursões eletrônicas bastante válidas.
    Wayne Shorter, exímio saxofonista, continuava sendo um nome bastante referido nesta década, assim como Joe Zawinul, Herbie Hancock e Chick Corea, pianistas / tecladistas, todos agora com conceitos musicais bem mais reformulados.
    Estreava o guitarrista John MacLaughlin, com sua orquestra Mahavishnu, conseguindo marcante sucesso na época, ao mesmo tempo que, paralelamente, o pianista Keith Jarrett empreendia memoráveis excursões pela Europa. E até o ano de 1974, quando se dissolveu, o The Modern Jazz Quartet continuava a apresentar-se e gravar, em sua longa trajetória de sucesso.
    Nesta década, tivemos também o passamento do grande líder de orquestra, arranjador e pianista Duke Ellington, sendo substituído, na direção de sua banda pelo filho, o trompetista Mercer Ellington. E também, Dave Brubeck retornava para atender a diversos contratos de apresentações, excursões, gravações.
    Toda essa enxurrada de fatos apenas para evidenciar que, nesta década dos anos 70 até o seu final, o Jazz continuava a navegar, a ser requisitados e ter o seu espaço artístico assegurado. Mas, o que realmente caracterizou esta década foi a nova postura dos músicos de Jazz, assumindo uma opção de profissionalismo e seriedade. Houve uma revitalização nos usos e costumes e até uma intolerância tácita a desvios de procedimentos, muito comuns no passado.
    Uma opção inteligente!

1980

    E por que não inaugurar a década dos anos 80 com boas notícias ?
    Oriundo de Nova Orleans, a Capital do Jazz, surgia um trompetista que viria a juntar-se a Art Blakey (aquele mesmo baterista que, desde a década de 40, trilhava a estrada do Jazz !), em seu conjunto The Jazz Messengers. Este talentoso artista, de família de renomados músicos, chamava-se Wynton Marsalis e configurava-se como um excelente trompetista de formação erudita, mas com igual aptidão para o Jazz, do qual é um incansável estudioso e divulgador. Trabalhando no referido conjunto, trouxe ao grupo novas energias musicais, que permitiram gravações de tantos discos quanto nos bons tempos anteriores à sua vinda, desde a década de 60.
    Marsalis desenvolvia, também, outras atividades, apresentando-se em trios, quartetos e monitorando conferências e palestras artísticas e didáticas, no âmbito pedagógico musical.
É este o novo perfil do artista, que define bem o padrão do músico desta década dos anos 80, formando uma nova geração com sólido conteúdo musical e com capacidade técnica para pesquisar, analisar e gerar modelos próprios.
    Fazendo justiça ao que foi dito, apareciam nesta década os talentos da cantora Cassandra Wilson, dos saxofonistas Steve Coleman e Donald Harrison e do trompetista Terence Blanchard, além do bom trabalho da "The Widespread Jazz Orchestra".
    Surgiram, também nesta década, algumas fusões interessantes, interações harmônicas do Jazz com o Rock-And-Roll, com música latina, com raízes africanas, resultados de estudos avaliativos e especulativos.
    O que de marcante aconteceu, foi um retorno aos sons acústicos, o que representou uma redescoberta do sabor mais antigo da música. Tudo o que se aprendeu na grande febre eletrônica não foi em vão e, na destilação do aceitável, resultou a medida exata para coexistir com a textura acústica. Valeu como o tempero certo no preparo do novo Jazz.

1990

    A década dos anos 90 iniciava-se, basicamente, apresentando um Jazz maduro e consciente em sua nova formatação.
    Os músicos atuais efetuam estudos regressivos de análise técnica e recriam as formas autênticas do Jazz. Há um interesse no estudo de intérpretes do passado, voltado para o aperfeiçoamento musical do presente.
    Indubitavelmente, a década dos anos 90 acontece sob aquela visão competente de Wynton Marsalis, já comentada anteriormente, caracterizada por seriedade e profissionalismo no estudo e execução do Jazz.
    Nesta década de final de século, consumou-se o aparecimento de Big- Bands, agora com uma consciência empresarial atualizada. A Lincoln Center Jazz Orchesta, sob a direção do maestro Wynton Marsalis, é um testemunho atual de como uma banda de Jazz pode existir, em nossos dias. E, a continuidade das bandas de Jazz, além de tudo, é forma de consagrar o velho ditado norte-americano: Big-Band de Jazz representa a língua da América".
    Atualmente, o Jazz está plenamente difundido em diversos lugares do mundo. De domínio exclusivo dos americanos, nas décadas passadas, o Jazz hoje é praticado com qualidade na Inglaterra, França, Israel, Portugal, Dinamarca, Brasil, Alemanha, Japão, Espanha e em outros importantes centros culturais.
    Registram-se, atualmente, diversos músicos, estudiosos e pesquisadores, nos mais variados países, que cultivam e dominam o Jazz. Como há, também, programas, festivais e publicações em diversos países, em variadas línguas.
    É a globalização do Jazz, entrando no século XXI!

Desnecessário é colocar aqui os novos caminhos do Jazz, diante da profusão de informações que, atualmente, o mundo dispõe.