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O espírito humano é capaz de coisas grandiosas,
de feitos abnegados, de atos carregados de solidariedade e de amor ao
próximo. Mas, também, extrapola ao outro extremo,
praticando ações odiosas, hediondas e
repugnantes. São os extermínios
étnicos, os holocaustos, as guerras, as agressões
terroristas, o comércio nefando de escravos. É
inexplicável !
Os escravos seqüestrados ao
continente africano, com destino ao Novo Mundo, somaram aproximadamente
doze milhões de vidas, das quais um milhão e meio
morreram durante as viagens!
O Brasil absorveu cerca de quatro
milhões de indivíduos, para abastecer os
trabalhos da lavoura e da mineração. Interessante
e polêmica foi a posição da Igreja
Católica do Brasil que, na época, era
contrária à escravidão dos
índios, mas complacente com relação
à escravatura dos negros! O restante dos escravos
sobreviventes, seis milhões e meio de pessoas, foi dividido
entre os outros países das Américas.
As humilhantes
condições de vida a que foram submetidos
os escravos, nós já as conhecemos,
através de nossas antigas aulas de História. Nos
Estados Unidos, assim como em outros lugares, os escravos
não tiveram melhor sorte.
O negro africano trouxe consigo,
além da dor e da tristeza do desterro, seus pertences
pessoais, suas plantas medicinais, instrumentos musicais e uma milenar
e intuitiva cultura. Seus amos, os colonos americanos, proibiam-nos de
usar os seus tambores e outros instrumentos musicais, temerosos de que
os mesmos poderiam servir de estímulo a revoltas e eventuais
sublevações. Proibiam-nos até de usar
suas línguas e dialetos nativos, objetivando com
estas repressões quebrar a unidade de
corporação do grupo.
O caráter da entrada do negro
na nação americana configurou-se como uma imigração,
onde o elemento imigrado é obrigado a aceitar os costumes do
país que o recebe. Porém, antagonicamente, com
relação à cultura musical por parte
dos negros, houve uma verdadeira migração,
movimento em que os migrantes impõem e transformam
os parâmetros da cultura existente no país.
E, desta maneira, os escravos
trabalhando nas plantações americanas ou nas
construções das estradas de ferro, criavam suas
canções e, mesmo sem os seus instrumentos
musicais, liberavam os seus sentimentos em ritmadas melodias cantadas.
E, assim faziam. Ora, um deles puxava um canto, à guisa de
mote, ora os demais respondiam, repetiam, improvisavam.
Esta prática evoluiu e difundiu-se, passando a fazer parte
nos folguedos de lazer, junto às sedes das fazendas,
até recebendo a assistência dos
patrões. Neste cantos, calcados em
tradições de raízes africanas, os
escravos manifestavam os seus lamentos, suas saudades, seus
acontecimentos do dia-a-dia e, por certo, relacionava-se com a forma
que posteriormente conheceu-se por Blues.
E estas manifestações musicais, ainda que
rudimentares e provenientes das regiões sulistas da
nação americana, projetaram uma
importância basilar na formação
ulterior do Jazz.
Uma das formas musicais, que
também demanda destes tempos, é a
música Gospel (Gospel
Music). Pastores evangélicos, aproveitaram o
novo e populoso rebanho pagão de escravos, nas lavouras de
algodão, para trabalhar na
cristianização deste povo. E este trabalho
religioso foi realmente um sucesso! Na aceitação
da doutrina Cristã, pelos escravos, estes inovaram, e
acrescentaram às melodias religiosas existentes
características harmônicas e rítmicas
com tempero e sabor da música negra. Este novo modo de
tributo ao Senhor logo foi aceito por todos, sendo adotado pelos mais
variados segmentos sociais daquela atualidade. Esta parcela de
aculturação dos escravos, orientada à
sua formação religiosa, forneceu
também importantes elementos recebidos pelo Jazz, no
processo de caldeamento de sua formação.
Duas outras formas de música
negra contribuíram também na
formação do vindouro Jazz: foram o Ragtime
e o Spiritual.
O Ragtime teve origem derivado de uma
dança conhecida como Cake-Walk
ou Regging, a qual era acompanhada pelo
Banjo, tentando imitar danças de origem européia.
Esta modalidade musical formou-se originalmente no meio-oeste
norte-americano e assemelhava-se, mais precisamente, a uma marcha
sincopada, mantendo os dezesseis compassos tradicionais da marcha.
Evoluiu, posteriormente, com a adição do piano,
resultando em uma música muito agradável, de
excelente estrutura e muito bem aceita. O Piano, praticamente,
transcrevia para o teclado o dedilhado do Banjo, incorporando
à mão esquerda, com exatidão, a
marcação grave da Tuba, tornando, assim, o
Ragtime uma música com características
pianísticas, porém sem concessão
à improvisação instrumental.
Foi o pianista Scott Joplin quem somou
ao Ragtime novas características, consolidando-o
através de inúmeras e bem elaboradas
composições.
Já o Spiritual, surgia no
século XIX , também com as
características de música negra , destinada
exaltar motivações religiosas ou
folclóricas, seguindo um caráter vocal. As suas
melodias eram passadas de indivíduo a indivíduo,
sem qualquer registro gráfico, por intermédio do
canto e da memória musical.
Temos, então,
vários vetores dirigidos ao que no futuro viria a
constituir-se o Jazz, dando-lhe substância musical. O Blues,
o Ragtime, a música Gospel e o Spiritual orientaram-se nesta
direção, criando uma estrutura musical definida e
com sólida conformação
artística e popular, tornando-a plenamente
viável. O Jazz . Mas, vamos voltar ao nosso assunto
principal.
O tratamento que se dispensava aos
escravos, ou melhor dizendo, os maus tratos, variavam conforme a
localidade. Mas, na cidade de Nova Orleans, no Estado de Louisiana, em
cuja colonização predominaram franceses e
espanhóis, os escravos eram tratados com um pouco mais de
brandura, ou com menos rigor. Não houve o confisco absurdo
de seus instrumentos musicais e os escravos podiam exercitar mais
livremente as suas práticas artísticas. Naquele
tempo, surgiam gloriosas formações musicais de
bandas e, Nova Orleans orgulhava-se de possuir excelentes conjuntos
nesta modalidade. Brilhavam em desfiles e solenidades bandas formadas
por elementos de raça branca (genuínos europeus
ou creoles), de negros e até bandas mistas.
Aconteceu, então,
além da emulação natural entre os
participantes, uma integração musical que,
positivamente, desencadeou em um aperfeiçoamento artesanal
em suas execuções.Todas as bandas - brancas,
negras, mestiças - tocavam, praticamente, o mesmo tipo de
música em moda na época, constituída
por marchas e cantigas locais, porém cada uma incorporava a
sua bossa própria e característica. Com o passar
dos tempos, as bandas evoluíram tecnicamente, acrescentando
novos instrumentos musicais, como a Clarineta por exemplo, que se
encarregava de executar a pontuação
melódica da melodia.
Também aconteceu um
avanço muito importante e significativo, quando se
experimentou a alteração do compasso das marchas
e Rags, de 2/4 para 4/4. Esta feliz modificação,
quebrou a rígida estrutura militar do ritmo até
então empregado, oferecendo maior flexibilidade e
balanço às melodias executadas. A sutil
alteração abriu e liberou o andamento musical das
peças que as bandas tocavam, ampliando também o
seus espaços de apresentações. Antes,
configuradas apenas para desfiles e exibições
móveis, as bandas passaram a oferecer
apresentações em salões e outros
ambientes fechados.
Desta época em diante,
definiram-se naturalmente alguns parâmetros, que determinaram
a conjuntura destes agrupamentos. O Trompete assumiu o papel de liderar
o tom da banda, seguido da Clarineta efetuando ornamentos de
contraponto, enquanto o Trombone assumia a missão de
intermediar o baixo. Todos acompanhando a seção
rítmica, composta pela Tuba, indicando o tom e marcando o
ritmo com toques firmes e fixos, o Bombo, Caixas e Pratos (
posteriormente substituídos pela Bateria), desenvolvendo o
desenho rítmico da música e o Banjo, acompanhando
o ritmo da Tuba em um registro mais alto. O Piano acrescentado, foi
muito bem-vindo, atuando na marcação
rítmica e fazendo insinuações
melódicas. Estava definido um padrão que viria a
ser vitorioso !

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Isto acontecia no final do século XIX e, muito
próximo a 1900 , já despontava o nome de Buddy
Bolden, líder trompetista, na quente e musical Nova Orleans,
que teve como sucessores os comentados Manoel Perez e Freddie Keppard.
Nesta época, iniciava o seu reinado o cornetista Joe "King"
Oliver, com o seu sopro potente e afinadíssimo,
além de um novo estilo de tocar. Havia entre eles, Bolden,
Perez, Keppard e Oliver, uma grande e feroz rivalidade, o que, de uma
certa maneira, resultou benéfica no aprimoramento de seus
trabalhos.

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Em meados da
década dos anos 10, surgia no cenário musical a
legendária figura de Jelly Roll Morton, pianista, compositor
e líder de conjuntos, que praticava o seu Jazz em clubes e
cabarés famosos da época. Outras novas
personalidades musicais afloravam e uma delas, o grande trombonista Kid
Ory iniciava a sua longa carreira de sucesso, com destino a mais de
meio século de Jazz.
Em 1916, atuava com acentuado sucesso a
Original Dixieland Jass Band (ODJB), excursionando e até
gravando o seu primeiro disco. Seus admiradores, que antes a
reconheciam pelo apelido de Dixieland, por praticidade passaram a
chamá-la de Jazz, uma alteração mais
enfática de seu nome Jass.
Segundo alguns estudiosos, vem daí a
denominação desta nova música.
Nesta década, apontava o nome
de Johnny Dodds, grande clarinetista do início do Jazz.
Em 1919, já era notícia o grande saxofonista
soprano Sidney Bechet, que despontava como um dos maiores
intérprete deste instrumento, além da Clarineta.

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A década dos anos 20 iniciava com o sucesso da Creole
Jazz Band, de Kid Ory, agora um nome já
consolidado na empolgante música de Jazz. E, embora
iniciando o seu trabalho na década anterior, surgia um
modesto rapaz, tocando a sua Corneta, que viria a tornar-se um dos
maiores vultos do Jazz: Louis Armstrong, o Embaixador do Jazz, como
cognominou-se anos mais tarde. Armstrong fora aluno de Joe "King"
Oliver em sua cidade natal, Nova Orleans e, neste ano de 1920,
ingressava na banda de Fat Marable, que atuava em um navio fluvial de
nome Capitol, subindo e descendo o rio
Mississipi e tocando um Jazz da melhor qualidade.
Mas, já em 1922, deixava de
navegar e ingressava na banda de Joe "King" Oliver, seu ex-professor,
na cidade de Chicago. As coisas sucediam-se rapidamente. Em 1924,
passava para a banda de Fletcher "Smack" Henderson em Nova Iorque,
substituindo a Corneta pelo Trompete. Outras bandas se sucederam na
vida de Louis Armstrong, sempre tocando, gravando, galgando e
atravessando com êxito artístico várias
décadas seguintes.
Em meados da década de 20, o
já referido Jelly Roll Morton fazia sucesso à
frente de seu explosivo grupo Red Hot Peppers,
atuando decisivamente em gravações e em
transmissões via rádio. Por esses tempos, as
gravações de discos iniciavam uma nova modalidade
de divulgação artística e auspiciosa
fonte de rendimentos, ao mesmo tempo que resultaria em importante
registro histórico musical de então. O testemunho
discográfico destas épocas referenda dados
importantes e valiosos, na análise de tendências e
desenvolvimento do Jazz.
Esta década foi
pródiga no surgimento de grandes artistas
jazzísticos. Bessie Smith, por exemplo, apresentava-se
nestes anos em grande atividade. A Imperatriz do Blues,
como era chamada, apresentava a sua especial voz em
audições de clubes noturnos e em
gravações de discos que, ainda que
incipientes,traziam-lhe muito sucesso.
Chicago, nesta década dos
anos 20, surgia como um importante centro jazzístico,
cotizando com Nova Iorque, que era, indiscutivelmente a Meca do Jazz.
Em atividade, nestes tempos, podia-se distinguir os nomes de Bix
Beiderbeck, cornetista e trompetista, dos clarinetistas Benny Goodman e
Pee-Wee Russell e da famosa orquestra de Paul Whiteman. Especial
menção, devemos fazer aos trabalhos
pianísticos de Willie "The Lion" Smith, Eubie Blake e James
P. Johnson, antológicos músicos que serviram de
modelo a outros grandes e famosos pianistas futuros.
Mas, para a glória da
década dos anos 20, dois importantes nomes assinaram neste
pedaço de tempo e, cada um à sua maneira,
deixaram as suas marcas indeléveis na história do
Jazz. Foram Fats Waller e Duke Ellington !
No final da década de 20, o
Jazz já exibia a sua identidade própria,
consolidando a sua força musical e a sua beleza
artística. Nova Iorque tornava-se o grande centro cultural,
artístico e comercial da Música e os
investimentos financeiros, neste setor, cresciam, assegurados pela
certeza de retornos monetários certos e seguros. Os grupos
musicais cresciam, grandes e numerosas bandas formavam-se e
inúmeros talentos revelavam-se. A Tuba tinha sido,
gradativamente, substituída pelo Contrabaixo, o Banjo pela
Guitarra e assim corria celeremente o bom tempo, com grandes novidades
acontecendo.

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E amanhecia a
década dos anos 30.
Os nossos já conhecidos Benny
Goodman, Louis Armstrong, Duke Ellington, assim como outros,
consagravam-se e continuavam aprimorando os seus estilos,
alcançando sempre sucesso crescente.
As grandes bandas surgiam, como um
paradigma desta década. Louis Armstrong possuía
uma boa orquestra, Don Redman e Cab Calloway iniciavam as suas
trajetórias musicais e a orquestra Casa Loma, liderada por
Glenn Gray, apresentava-se com inusitado sucesso, face aos seus
excepcionais desempenhos.
Outras orquestras também brilhavam,
cotizando-se na aceitação pública,
como as de Walter Page, Troy Floyd, Don Albert, Alphonso Trent (que
tocava Acordeão, instrumento musical um tanto
insólito no Jazz...), Jesse Stone, Nat Towells, Benny Moten,
Andy Kirk e outras. E, algumas cercada de extraordinária
fama, como as orquestras de Chick Webb, Artie Shaw, Benny Goodman,
Tommy Dorsey, Jimmie Lunceford, Woody Herman, Duke Ellington e Count
Basie.
A orquestra de Count Basie, de certo
modo remanescente da orquestra de Benny Moten, conseguiu
alcançar uma notoriedade verdadeiramente sensacional. Basie,
descobriu a fórmula mágica de cair no agrado
geral. Formulou, para a sua orquestra, uma batida indolente, cheia de
malícias em seus arranjos. Estes, eram escritos com
simplicidade, sem no entanto tornarem-se inexpressivos ou quadrados. E,
para completar, formou uma banda com músicos talentosos, da
mais fina estirpe jazzística, como poucas outras orquestras
tiveram o privilégio de possuir. E esta fórmula
deu certo !
Ao finalizar a década dos
anos 30, já se possuía um apreciável
acervo discográfico, mercê das melhorias
tecnológicas das gravações.
Observava-se, nestes tempos, alguns grupos racialmente mistos, atuando
musicalmente ao vivo ou em gravações, o que em
décadas anteriores era inconcebível. O Jazz, ao
finalizar esta década apresentava-se com um
padrão bem mais elaborado, com excelentes arranjos
produzidos, músicos em níveis ascendentes e
formações orquestrais impecáveis.

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Em plena Segunda Guerra, iniciava-se a década dos anos 40.
Mesmo com as dificuldades advindas do conflito, o Jazz continuava a sua
trajetória. Aconteceu até o grande interesse dos
europeus por esta empolgante música, ocasionando
excursões de vários artistas
jazzísticos ao exterior, efetuando
apresentações e gravações,
isto antes que as escaramuças recrudescessem. Neste
particular, trabalharam com sucesso o saxofonista Coleman Hawkins e o
saxofonista / trompetista Benny Carter.
Um acontecimento, nesta
década marcou-a decisivamente, a
criação do Bebop.
Bebop, para muitos, Rebop, para outros
ou, mais simplificadamente para alguns, Bop.
Este novo estilo de tocar o Jazz desabrochou criativamente, em
síntese, por dois grandes músicos da
época: o saxofonista Charlie Parker e o Trompetista Dizzy
Gillespie. Outros, colaboraram.
O Bebop resultou da
subdivisão do compasso 4/4 em oito batidas equilibradas,
dentro do compasso. Com isto a música ganhou em agilidade e
ainda, propiciou aos fraseados instrumentais maior poder improvisativo.
De fato, o músico podia inventar pausas, atravessar os
recomeços desencontrando-os das batidas, dando um
balanço mais acentuado e embelezando o ritmo da melodia.
Os bateristas assimilaram este
avanço artesanal do Jazz e tiraram dele uma nova maneira de
tocar, preenchendo a maior subdivisão de batidas com rufos e
novos desenhos percussivos. É o caso de Max Roach, que
aderiu a Charlie Parker e a Dizzy Gillespie, produzindo grandes
atuações neste novo estilo jazzístico.
O Bebop estendeu-se a outros grandes
talentos do Jazz, como o trompetista Fats Navarro, o trombonista Jay
Jay Johnson, o saxofonista Sonny Stitt, os pianistas Bud Powell e
Thelonious Monk, enfim, a inúmeros outros grandes e
importantes músicos jazzísticos. Terminada a
Segunda Guerra, aconteceu um refluxo monetário nos
vários setores da nação
norte-americana. Milhares de soldados retornavam à
pátria, demandando novos postos de trabalho e o
país partia para uma acomodação geral.
Por razões econômicas, as Rádios
optavam por apresentações musicais
através de discos, postergando
apresentações artísticas ao vivo.
Muitas orquestras desfizeram-se, tendo muitos de seus
músicos partindo para outras formações
menores, carreiras solos ou, o que foi mais lamentável,
abandonando a carreira musical.
Algumas orquestras enfrentaram esta
convulsão, adaptaram-se e venceram, como foi o caso da banda
de Dizzy Gillespie. Outras, não tiveram esta capacidade de
reorganização. No final da década dos
anos 40, o Jazz apresentava-se abalado, retalhado, ferido. Urgia uma
reformulação para a continuidade de sua marcha
constante. E esta adaptação à atual
conjuntura aconteceu.

-
A década dos anos 50, que ora se iniciava, prenunciava uma
retomada estratégica, com pleno sucesso para o Jazz.
As orquestras, antes populosas e que
existiam quase que exclusivamente para o abrilhantamento de
salões de danças, reduziram drasticamente de
tamanho, passando agora a realçar os talentos solistas de
seus músicos. Com o advento comercial da
Televisão, aconteceu a abertura de oportunidades para
inúmeros músicos, apresentando-se em diversos
programas da época. Claro que os sindicatos
influíam, filtrando para a Televisão e Cinema
apenas o padrão de artista que lhes convinham ...
Consolidou-se, então, uma
tendência de Jazz chamada de Cool,
que aderia a uma produção de sonoridade mais
suave e íntima. Nesta nova onda, o saxofonista Lester Young
evidenciava-se como um fiel intérprete desta nova filosofia
jazzística, tendo servido de paradigma para muitos outros
músicos.
E, em matéria de
inovações, esta década não
ficou só nisso. Aconteceu o surgimento da Escola Costa Oeste
(West Coast), que foi um movimento de
músicos de Jazz, de maioria branca, com alto
nível técnico e de esmerada
formação musical, cujo objetivo foi o de criar um
Jazz mais rebuscado e altamente melódico. Aproveitaram, em
síntese, todas as formas pelas quais o Jazz já
navegara até aquele momento, dando-lhe em tratamento
altamente técnico.
Todos estes movimentos trouxeram, para a
década de 50 e para as décadas seguintes, uma
forma mais consciente e consistente de tocar o Jazz, de transcender
melhor a beleza harmônica de suas melodias e de oferecer
opções diferenciadas na maneira de
executá-lo.
Esta década trouxe em seu
bojo o despontar de notáveis músicos de Jazz e o
mundo ficou conhecendo grandes talentos como os saxofonistas Gerry
Mulligan, Sonny Rollins, Benny Golson, Jackie McLean; os trompetistas
Clifford Brown, Art Farmer, Chet Baker, Freddie Hubbard, Miles Davis (
que surgiu na década anterior, porém firmou-se
nesta); os pianistas Bill Evans, Dave Brubeck (em cujo quarteto
militava o excepcional saxofonista Paul Desmond); o contrabaixista
Charles Mingus; a vocalista Carmen McRae e muitos
outros.
Registra também esta década o aparecimento do
conjunto The Modern Jazz Quartet,
inaugurando um novo som dentro do Jazz.
Em meados da década de 50 foi
inventado, se assim se pode dizer, um novo estilo de Jazz,
aplicável a pequenos conjuntos, chamado de Hard
Bop. Intimamente ligado ao carismático
baterista Art Blakey, fundador do famoso conjunto The
Jazz Messengers, este movimento apareceu para limar as
asperezas angulares do Bebop e tornar mais franca a sua
linguagem. Embarcaram neste
estilo o fenomenal trompetista Miles Davis, o saxofonista inovador John
Coltrane e outros.
O Jazz da década dos anos 50
ia de vento em popa. O ressurgimento do pianista de harmonias
incríveis Thelonious Monk, o surpreendente saxofonista Sonny
Rollins e ainda, a eclosão de vários festivais de
Jazz, onde artistas dos mais diversos estilos, escolas, idades,
raças e cores tocavam juntos e relacionavam-se, mostrava um
sinal eloqüente de recuperação e de boa
saúde do Jazz, readquirindo o seu alto posicionamento.
Somava-se a isto tudo a reaparição das famosas
bandas de Count Basie e Wood Herman, um forte e indiscutível
sinal de uma prática musical com muita técnica,
arte e qualidade. E sucesso.

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O mundo do Jazz recebia a década dos anos 60
iniciando, praticamente, com a controvertida
música de Ornette Colleman, rejeitada por alguns mas,
posteriormente, sendo aceita como uma nova e moderna voz do Jazz.
É quando o novo arrepia ! Mas, este novo estilo, moderno e
livre, excitava a sensibilidade e a criatividade de outros
músicos coevos, alguns até do continente europeu,
que formaram suas próprias escolas, baseadas na livre
improvisação. Neste contexto, corroboraram com os
seus estilos afins, os artistas Cecil Taylor (Piano), Archie Shepp,
Albert Ayler, Eric Dolphy (saxofones), além de outros.
Enquanto isso acontecia, Charles Mingus,
Miles Davis, John Coltrane, Wayne Shorter, Lee Morgan, Freddie Hubbard
e Art Blakey continuavam com pleno êxito as suas carreiras
artísticas, produzindo trabalhos fonográficos da
melhor qualidade.
Na década de 60, aconteceu o
surgimento de um movimento musical, vindo do Brasil e denominado Bossa
Nova, ou segundo querem alguns Samba-Jazz,
para o qual pedimos licença para abrirmos um vasto
parêntesis, nesta História do Jazz. A Bossa-Nova,
de alguma maneira ligada ao Jazz, foi realmente um movimento renovador
na música urbana do Brasil, com notável
influência jazzística em suas estruturas. Surgindo
na década de 50, ela realmente veio a ser conhecida do
público norte-americano na década de 60, quando
aconteceram diversas apresentações de
músicos brasileiros nos Estados Unidos.
A verdade é que,
através de sua beleza melódica, seu
caráter intimista e seu desenho rítmico
acessível ao músico de Jazz, com o tempo ganhou a
simpatia destes, sendo assimilada por inúmeros e importantes
artistas. Constatou-se, então, um retorno ou um resgate. A
Bossa-Nova, de influenciada que foi, em sua
criação, pelo Jazz, passou a ser influenciadora
no trabalho de renomados músicos jazzísticos. A
aceitação da Bossa-Nova por grandes nomes, como
os de Stan Getz, Charlie Byrd, Herbie Mann, Dizzy Gillespie, Lalo
Schifrin, Ella Fitzgerald, Sarah Vaughan, Frank Sinatra, Barney Kessel,
Oscar Peterson, Johnny Griffin, Cannonball Adderley, Paul Horn, Chet
Baker, Carmen McRae, Kai Winding, Toots Thielemans, Earl "Fatha" Hines,
Erroll Garner, Ahmad Jamal, Bobby Hackett, Vic Dickenson, Jimmy Smith,
Urbie Green, Joe Pass, Laurindo de Almeida, Gary Burton, Nat Adderley,
Milt Jackson, Clark Terry, Ronnie Scott, Niels Henning Orsted Pedersen,
Bobby Durham, Lee Konitz, Jimmie Rowles, Bill Evans e outros, atestava
a sua qualidade e a viabilidade artística e comercial da sua
implantação.
Inexplicavelmente, e infelizmente,
alguns anos depois, o movimento esvaziou-se no Brasil, não
mais alimentando a demanda nacional e internacional. Erro de
estratégia, o recalcitrante falso nacionalismo, a obstinada
e sistemática oposição às
novas culturas, não sabemos, truncaram a oportunidade da
Bossa-Nova de participar como uma das músicas brasileiras.
Não foi sabido aproveitar a excelsa oportunidade que teve
para firmar-se, definitivamente, como música de alto
padrão artístico. Morreu, sendo
substituída por outras "bossas", inferiores e
efêmeras. Salvo algumas exceções,
perdeu-se tempo e divisas.
"Chega de Saudade" e vamos rapidamente fechar
parêntesis.
Nesta década dos anos 60
sucedeu, verdadeiramente, uma grande novidade, ou seja, a
inovação dos instrumentos musicais
eletrônicos. Avanços tecnológicos da
época, foram aplicados à Música,
resultando em interessantes equipamentos instrumentais, com grande
aceitação. Teclados, Sintetizadores, Pianos
Elétricos, Guitarras e Baixos de segunda
geração, etc., surgiam e multiplicavam-se.
Miles Davis, dedicou-se a eles, assim
como outros músicos, dominando esta nova forma de
instrumentação musical. Assim, vamos assistir, no
final da década de 60, em uma nova linha de
atuações os músicos Herbie Hancock,
Tony Williams, Wayne Shorter, Chick Corea e mais alguns, com excelentes
performances. Assim terminava a década dos anos 60, com o
esfriamento daquele movimento livre, com a novidade de seu modernismo
perdendo um pouco o entusiasmo inicial. Mas, no balanço
geral, a década dos anos 60 foi muito frutífera
para o Jazz.

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Nos primeiros anos da década de 70, as coisas voltaram
às suas normalidades, com as experiências das
incursões eletrônicas bastante válidas.
Wayne Shorter, exímio
saxofonista, continuava sendo um nome bastante referido nesta
década, assim como Joe Zawinul, Herbie Hancock e Chick
Corea, pianistas / tecladistas, todos agora com conceitos musicais bem
mais reformulados.
Estreava o guitarrista John MacLaughlin,
com sua orquestra Mahavishnu, conseguindo marcante sucesso na
época, ao mesmo tempo que, paralelamente, o pianista Keith
Jarrett empreendia memoráveis excursões pela
Europa. E até o ano de 1974, quando se dissolveu, o The
Modern Jazz Quartet continuava a apresentar-se e gravar, em sua longa
trajetória de sucesso.
Nesta década, tivemos
também o passamento do grande líder de orquestra,
arranjador e pianista Duke Ellington, sendo substituído, na
direção de sua banda pelo filho, o trompetista
Mercer Ellington. E também, Dave Brubeck retornava para
atender a diversos contratos de apresentações,
excursões, gravações.
Toda essa enxurrada de fatos apenas para
evidenciar que, nesta década dos anos 70 até o
seu final, o Jazz continuava a navegar, a ser requisitados e ter o seu
espaço artístico assegurado. Mas, o que realmente
caracterizou esta década foi a nova postura dos
músicos de Jazz, assumindo uma opção
de profissionalismo e seriedade. Houve uma
revitalização nos usos e costumes e
até uma intolerância tácita a desvios
de procedimentos, muito comuns no passado.
Uma opção
inteligente!

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E por que não inaugurar a década dos anos 80 com
boas notícias ?
Oriundo de Nova Orleans, a Capital do
Jazz, surgia um trompetista que viria a juntar-se a Art Blakey (aquele
mesmo baterista que, desde a década de 40, trilhava a
estrada do Jazz !), em seu conjunto The Jazz Messengers. Este talentoso
artista, de família de renomados músicos,
chamava-se Wynton Marsalis e configurava-se como um excelente
trompetista de formação erudita, mas com igual
aptidão para o Jazz, do qual é um
incansável estudioso e divulgador. Trabalhando no referido
conjunto, trouxe ao grupo novas energias musicais, que permitiram
gravações de tantos discos quanto nos bons tempos
anteriores à sua vinda, desde a década de 60.
Marsalis desenvolvia, também,
outras atividades, apresentando-se em trios, quartetos e monitorando
conferências e palestras artísticas e
didáticas, no âmbito pedagógico musical.
É este o novo perfil do artista, que define bem o
padrão do músico desta década dos anos
80, formando uma nova geração com
sólido conteúdo musical e com capacidade
técnica para pesquisar, analisar e gerar modelos
próprios.
Fazendo justiça ao que foi
dito, apareciam nesta década os talentos da cantora
Cassandra Wilson, dos saxofonistas Steve Coleman e Donald Harrison e do
trompetista Terence Blanchard, além do bom trabalho da "The
Widespread Jazz Orchestra".
Surgiram, também nesta
década, algumas fusões interessantes,
interações harmônicas do Jazz com o Rock-And-Roll,
com música latina, com raízes africanas,
resultados de estudos avaliativos e especulativos.
O que de marcante aconteceu, foi um
retorno aos sons acústicos, o que representou uma
redescoberta do sabor mais antigo da música. Tudo o que se
aprendeu na grande febre eletrônica não foi em
vão e, na destilação do
aceitável, resultou a medida exata para coexistir com a
textura acústica. Valeu como o tempero certo no preparo do
novo Jazz.

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A década dos anos 90 iniciava-se, basicamente, apresentando
um Jazz maduro e consciente em sua nova
formatação.
Os músicos atuais efetuam
estudos regressivos de análise técnica e recriam
as formas autênticas do Jazz. Há um interesse no
estudo de intérpretes do passado, voltado para o
aperfeiçoamento musical do presente.
Indubitavelmente, a década
dos anos 90 acontece sob aquela visão competente de Wynton
Marsalis, já comentada anteriormente, caracterizada por
seriedade e profissionalismo no estudo e execução
do Jazz.
Nesta década de final de
século, consumou-se o aparecimento de Big- Bands, agora com
uma consciência empresarial atualizada. A Lincoln
Center Jazz Orchesta, sob a
direção do maestro Wynton Marsalis, é
um testemunho atual de como uma banda de Jazz pode existir, em nossos
dias. E, a continuidade das bandas de Jazz, além de tudo,
é forma de consagrar o velho ditado norte-americano:
Big-Band de Jazz representa a língua da América".
Atualmente, o Jazz está
plenamente difundido em diversos lugares do mundo. De
domínio exclusivo dos americanos, nas décadas
passadas, o Jazz hoje é praticado com qualidade na
Inglaterra, França, Israel, Portugal, Dinamarca, Brasil,
Alemanha, Japão, Espanha e em outros importantes centros
culturais.
Registram-se, atualmente, diversos
músicos, estudiosos e pesquisadores, nos mais variados
países, que cultivam e dominam o Jazz. Como há,
também, programas, festivais e
publicações em diversos países, em
variadas línguas.
É a
globalização do Jazz, entrando no
século XXI!
- Desnecessário é colocar aqui
os novos caminhos do Jazz, diante da profusão de
informações que, atualmente, o mundo
dispõe.
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