DOMENICO SCARLATTI

 

Domenico Scarlatti Giuseppe Domenico Scarlatti nasceu em Nápoles, a 26 de outubro de 1685, exatamente no ano que nasceram Bach e Haendel. Seu pai, Allessandro Scarlatti, então com 25 anos e com seis filhos, já se firmara como compositor fecundo e rapidamente se aproximava da fama como operista.

Desde criança, Domenico conviveu com a música, recebendo lições de seu pai e sofrendo influência de outros membros da família: o tio Francesco era violinista,o tio Tomaso era tenor, a tia Anna Maria era cantora; o tio Niccoló também era músico. Em sua própria geração, seu irmão mais velho, Pietro, tornou-se compositor e a irmã Flamínia era cantora.

Pouco antes de completar dezesseis anos, Mimo (era seu apelido em casa) conseguiu seu primeiro emprego como músico profissional, como organista e compositor na Capela Real de Nápoles.

Quando tinha vinte anos, seu pai o enviou para Veneza, um grande centro cultural, para se aperfeiçoar em seus estudos com o famoso operista e pedagogo Francesco Gasparini, diretor do "Ospedale della Pietá", orfanato e colégio para meninas, onde trabalhava também Antonio Vivaldi, o "Padre Ruivo". Nesta época, escreveu seu tratado "L’Armonico Pratico al Cembalo" (Prática e Harmonia ao Cravo).

Neste mesmo período conheceu o compositor Haendel, contato que durou pouco tempo, mas mantido posteriormente por correspondência, em uma grande amizade.

No final de 1713, por influência do pai - ao que parece - Scarlatti assumiu o posto de diretor musical da Basílica de São Pedro, no Vaticano. Permanecendo até 1719, escreveu muitas missas e algumas óperas, partituras que se perderam na maioria, com o tempo.

Da mesma época datam as relações de Domenico com o embaixador de Portugal em Roma, o Marquês de Fontes, que, graças ao ouro do Brasil, mantinha uma corte luxuosa. Com isso, estabeleceram-se as primeiras ligações do compositor com Portugal, o que, alguns anos mais tarde, mudariam completamente os rumos de sua vida e sua arte.

Em 1720 o compositor foi para Portugal, ficando pôr vários anos. Dom João V, o soberano português, mantinha uma das mais ricas cortes de todo o mundo. Amante da pompa e do luxo, Dom João V deu ao compositor todas as condições para que o seu trabalho fosse o mais rico possível. Scarlatti tinha ao seu dispor mais de trinta cantores e tantos outros instrumentistas, a maior parte italianos. Além de ser o diretor musical e compositor da corte, tornou-se professor de cravo da princesa Maria Bárbara de Bragança, uma menina de dez anos. Sob a direção de Scarlatti, pôr sua vez, tornou-se uma hábil intérprete e ligou-se ao compositor pôr toda sua vida. Casando-se com o herdeiro do trono espanhol, em janeiro de 1729, fez absoluta questão de levar Scarlatti para Madri.

Scarlatti somente casou-se após a morte de seu pai. A morte de Alessandro causou uma verdadeira revolução na vida do compositor. O pai, músico muito mais famoso que ele, tinha um temperamento dominador, exercendo sobre o filho uma função castradora. Enquanto Alessandro vivia, Domenico dedicou-se ao mesmo tipo de composição do pai, mas nunca conseguiu superá-lo. Após sua morte, Domenico procurou seu caminho, dedicando-se cada vez mais às composições para teclado. No plano pessoal é significativo o fato do compositor só ter se casado depois do falecimento do pai. Isso ocorreu em Roma,quando Domenico já contava com 43 anos de idade. A esposa era uma jovem romana de 16 anos, Maria Catalina, que lhe deu cinco filhos, todos nascidos na Espanha.

Na Espanha se iniciou a fase mais brilhante de sua carreira de compositor. Vivendo nos palácios reais de Sevilha, Madrí e arredores, mas também junto ao povo das ruas, Scalartti absorveu toda a cultura espanhola e tornou-se um verdadeiro espanhol. Além do cotidiano contato com a princesa, foram muito importantes as relações com Carlo Broschi, famoso castrato italiano conhecido como Farinelli, diretor musical da corte e o mais conhecido cantor do século XVIII. Farinelli dirigia todos os espetáculos da faustosa corte espanhola e o seu relacionamento com Scarlatti foi sempre o melhor possível.

Outro contato importante foi o que Scarlatti manteve com Padre Antonio Soler, 44 anos mais moço que ele e sobre o qual o compositor exerceu profunda influência. Soler escreveu grande número para cravo e publicou, em 1762, um tratado intitulado Chave de Modulação, onde expunha os métodos de suas caprichosas modulações - as mesmas que se encontram nas obras de Scarlatti.

Da vida íntima do compositor quase nada se sabe. Em 1739, sua esposa faleceu e ele, pouco tempo depois, casou-se outra vez, com uma espanhola, Anastásia Maxarti Ximenes, que lhe deu mais quatro filhos. Todos formavam uma família feliz, sem maiores problemas, a não ser alguns dissabores causados pelo único vício do compositor: o jogo. O inveterado jogador gastava noites e noites em apostas dos mais variados tipos, perdendo grandes somas nestas atividades...mas a Rainha Bárbara vinha sempre em seu socorro e pagava suas dívidas.

Doente, já setuagenário, Domenico passou os últimos cinco anos recluso em casa. E, pouco antes de morrer a 23 de julho de 1757, fez um testamento onde pagava, antecipadamente, a realização de cinqüenta missas para os pobres.

SUA OBRA

Praticamente toda a obra de Scarlatti composta na Itália se perdeu, restando apenas alguns libretos de ópera e fragmentos de partituras. Sua produção portuguesa se perdeu no célebre terremoto de primeiro de novembro de 1755, em Lisboa.

De modo igual, das cerca de 555 sonatas para cravo - a parte principal da obra de Domenico - não sobrou nenhum manuscrito autógrafo; somente cópias feitas na época pôr outros músicos.

Scarlatti criou uma das mais originais obras do século XVIII e uma das mais importantes da literatura para teclado. Virtuose sem rival - pela técnica e brilho que extraía do cravo - libertou o instrumento das limitações. Introduzindo saltos e harpejos extensíssimos, notas de passagem dupla, cruzamento de mãos e rápidas repetições de notas, Scarlatti fez avançar a técnica do teclado a tal modo que, um século depois - com Chopin e Liszt - surgiriam inovações de grande importância.

As sonatas compostas em sua sua "fase virtuosística"contém dificuldades somente superadas com muita maestria técnica. Embora o autor tenha prometido compor peças de fácil interpretação, estas sonatas estão cheias de acrobacias...o seu gosto pôr estas proezas acrobática decorria tanto de seu amor ao instrumento e de sua alegria em tocá-lo, quanto uma nítida tendência exibicionista. É tal sua ânsia neste sentido que, parece que todo o corpo do intérprete é chamado a participar. Os mais fantásticos cruzamentos de mãos são encontrados nestas sonatas.

O Scarlatti da maturidade é encontrado a partir de 1752. O compositor mostra-se mais lírico e , até certo ponto, introvertido. Suas peças são temperadas com uma certa doçura e refinamento, e muitas delas são em movimentos mais lentos.

Bibliografia

Mestres da Música - Abril Cultural

"Domenico Scarlatti: A Liberdade nas Cortes" - Revista Visão,30 de outubro de 1985.

Voltar aos Compositores    Homepage

Renata Cortez Sica Copyright © 1999 / 2000
Todos os direitos reservados  Araras, SP - Brasil